Lab:
O Lab é uma fonte de informação para Artistas e Amantes das Artes. Aqui podes, entre outras coisas, encontrar informação útil para desenvolver a tua carreira, tutoriais, entrevistas, notícias e muito mais.

3 conselhos e 3 exemplos para escreveres o teu statement (declaração do artista)
Ao preparares a tua candidatura para uma bolsa, um prémio, um concurso ou uma convocatória, já deves ter reparado que tens sempre que enviar a mesma informação básica: o teu CV, o projeto a desenvolver, amostras do trabalho previsto, cartas de recomendação e, antes de todo, o teu “statement”. Com uma curta descrição, o statement é uma declaração acerca da visão que tens da tua própria obra e do seu futuro. Tem que falar de ti e do teu trabalho. É uma carta de apresentação da tua personalidade artística, da tua obra, do teu processo, da tua filosofia, da tua visão e da tua paixão.
Neste artigo tentaremos dar-te alguns conselhos para escreveres o teu statement.
1. O teu statement não é a tua biografia nem o teu CV.
O statement é uma arma de promoção. Tem que chamar a atenção e dar à pessoa que o lê vontade de querer saber mais sobre a tua obra e ver, por exemplo, o teu CV ou exemplos do teu trabalho. O que o leitor pretende retirar do teu statement é compreender melhor o teu processo. O statement é descrever o teu trabalho em palavras. NÃO é dar informação sobre a tua carreira como artista, nem fazer uma lista das exposições em que participaste. NÃO é o teu CV.
2. Pergunta a ti próprio.
Porque fazes o que fazes?
Como é que chegaste a fazer o que fazes?
Qual é o teu processo e qual é a tua motivação?
Escreve todas as respostas em forma de frases curtas. Dá algum tempo. Volta a perguntar o mesmo todos os dias, e vai escrevendo as tuas respostas. Passado algum tempo, quando considerares que o teu trabalho está acabado, volta a ler todas as tuas respostas e seleciona as ideias recorrentes sobre os teus motivos, as características do teu trabalho e a tua visão, e tenta fazer uma primeira redação do teu statement.
3. Escreve na primeira pessoa e no presente
O teu statement deve ser simples e conciso. Evita utilizar termos técnicos ou palavras e snobismos do setor da arte. A chave está em expressar como te sentes, mas fá-lo em poucas palavras e tentando ao máximo conectar-te com o leitor. Algumas palavras chave que deves utilizar no teu statement poderão ser as que falam dos elementos que utilizas nas tuas obras, assim como as que descrevem os princípios do desenho, por exemplo. Não ensines ao leitor como deve ver a tua obra. Não seja pretensioso. Utiliza uma linguagem que tenha a ver contigo.
Três exemplos
Daniel Canogar
“As minhas mais recentes instalações forma construídas com material eletrónico encontrado em caixotes do lixo, aterros e centros de reciclagem: cabos telefónicos, informáticos e elétricos de várias cores, milhares de lâmpadas fundidas, metros de fita de vídeo, velhas slot machines, celuloide, DVDs, etc. Estas instalações exploram a curta vida das tecnologias que descartamos, e a sua relação com a mortalidade. Estas instalações também procuram reanimar o inanimado. Animações de luz projetadas sobre as instalações aparentam libertar a energia armazenada no material eletrónico, despertando memórias do seu passado.
Através do meu trabalho tento dar vida a estes materiais que morreram, mostrar os seus segredos, reavivar a memória coletiva que contêm, para construir um relato de uma sociedade e de uma época.”
Daniel Canogar, janeiro 2012
http://www.danielcanogar.com/artist-statement.php?lang=es
Juan Carlos Davila
“A minha ideia de obra de arte não se baseia numa técnica específica, mas sim em função das propriedades simbólicas que qualquer material ou objeto pode oferecer, e as relações que pode manter com o contexto onde participa ou onde é inserido. Assumo a prática artística desde a experiência quotidiana e desde os objetos que se relacionam com o corpo, com o espaço e com a arquitetura. No meu trabalho exploro o absurdo de algumas ações quotidianas para revelar o sentimento de vazio que implica a ausência de sentido das coisas. Gosto de pensar que o poder ou a força do vazio existem e que podem ser representados.
Algumas estratégias concetuais que empreguei têm a ver com a fragilidade corporal, a noção de tempo que passa e a possibilidade que temos de desaparecer. Exploro o carácter mutável e impermanente das coisas, desconstruindo e anulando em ocasiões a ideia de estabilidade. Em alguns casos, o material de resíduo que resulta de algumas intervenções ou ações no espaço faz parte da informação que quero transmitir.”
http://juancarlosdavila.com/index.php/2011/01/declaracion-de-artista-2/
Paula Usuga
“Defendo que a prática artística tem a capacidade de refletir situações problemáticas socioculturais do contexto, associadas ao género; reflito sobre a arte como uma ferramenta que me permite ativar pensamentos relativos a situações hegemónicas em diferentes ambientes sociais. O corpo/carne, a dor, o âmbito, os objetos usados e o trauma associado ao confronto físico e emocional sobre os discursos atuais, vinculado ao autorreferencial, são elementos e conceitos fundamentais no desenvolvimento das minhas propostas formais.
Existem dois eixos no meu processo: a performance e a criação objetual para instalação. Dentro da minha propostas de performance existem duas linhas: um, a exploração do retrato, onde o espetador é o construtor ativo no desenvolvimento da obra; e dois, os ensambles com diferentes materiais ou objetos, onde o corpo experimenta não só uma resistência física, mas também emocional. Dentro destas linhas, repenso os espaços numa narrativa desde a intimidade.
Interessa-me a criação de imagens e objetos visualmente poéticos que permitam ressignificar situações domésticas relacionadas com o corpo como suporte. Descontextualizo ações que levo ao espaço público, para provocar algum tipo de reação, onde o espetador seja participante ativo, e ressignificar objetos quotidianos que permitam uma infinidade de leituras. A performance é um ato realizado em frente ao outro, que irrompe na lógica do quotidiano, e é ai que reflito sobre a arte como um pensamento que se une à própria vida, onde a memória está encarregue de comunicar um tempo irrepetível.”
